O nascimento de uma nova linguagem.



Antes da era digital, os suportes estavam separados por serem incompatíveis. Enquanto o desenho, a pintura e a gravura figuravam nas telas, o texto e as imagens gráficas figuravam no papel, a fotografia e o filme, na película química, o som e o vídeo, na fita magnética.
Depois de passarem pela digitalização, todos esses campos tradicionais de produção de linguagem e processos de comunicação humanos passaram a constituir a chamada hipermídia.
Uma das faces mais importantes da cultura digital ou cibercultura, termo utilizado por P. Lév y (1999), diz respeito ao surgimento da hipermídia como uma nova linguagem, uma vez que esta é capaz de comportar o texto escrito, contido em livros, jornais ou revistas, o audiovisual, exibido em filmes de cinema ou em pequenas animações, e a informática, por meio dos computadores e de seus programas, inaugurando uma nova relação do autor com a leitura, com a escrita e com as formas de pensar.
Desse modo, os estímulos visuais variados, os sons e a escrita se misturam, o que proporciona ao leitor a aquisição e assimilação de conhecimentos e informações que envolvem os sentidos em um universo de significações muito diversificado.
Moran (1994) denomina esse tipo de conhecimento de sensorial, cinestésico - corporal, na medida em que possui a vantagem de ser imediato, “natural” e fácil de perceber, estimulando a união entre a mente, as imagens e o tato em um caminho intuitivo onde a exploração e a descoberta são inesperadas.
O leitor tem ao seu alcance um leque de possibilidades de acessar as informações, fato que confere a hipermídia um caráter singular, podendo interligá-las seguindo seus interesses e necessidades, percorrendo caminhos únicos e construindo suas próprias rotas. Assim, ao percorrer um caminho no qual pode estabelecer suas próprias sequências e associações, o leitor interage com o texto, assumindo um papel ativo na busca de informações e tornando- se com isso um coautor, uma vez que pode intervir no texto e reconstruí-lo.
Leitura e escrita se misturam na criação de um texto digital. Ler e escrever significa interagir para escolher uma ou várias dentre as ligações preestabelecidas pelo criador da hipermídia ou para estabelecer novas ligações não previstas pelo autor, criar caminhos e sequências próprias, deixar marcas, reconfigurar e criar narrativas pessoais.
Por ser uma linguagem que favorece a interatividade, é impossível o leitor usá-la de uma forma passiva, uma vez que ele é incentivado pela própria estrutura a criar movimentos que o seduzam para a leitura, reflexão, criação, resignificação, troca de experiências e de informações, produção de histórias, criação de seus próprios hipertextos, etc..
Talvez esse seja o recurso tecnológico que permite de forma mais ampla o registro de ideias e de visões de mundo, algo que outra tecnologia da informação não pode oferecer.

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